sábado, 26 de maio de 2012

Poeta à Revelia

Ele, por assim dizer, não era grande coisa.
Grandes coisas são exageradas, dispensáveis.
Mas ele, de fato, não era. Atrás daqueles instrumentos perdia a vergonha e, sem vergonha, fazia seu show.
O cabelo comprido é tudo que se pode ver. O que se quer enxergar. Sentir.
Seus óculos quase invisíveis e seus olhos de poeta que analisa forçam um desvio eficaz.
E fugindo do olhar, olhar pro rosto perde o sentido.
É do tipo que te faz ficar na ponta dos pés pra um abraço.
Extremos.
Uma visão horizontal te remete ao primeiro botão da camisa social – sempre social.
E tu percebes que visão não é o único sentido necessário.
Basta ele abrir a boca – aquela mesma que tu sempre evita olhar – com um violão na mão pra embalar e enterrar mesmo os mais dispersos e desinteressados na própria arte. Arte própria, das melhores.
Sensível ao toque, tão sensível que quase não permite contato que é pra não ter efeito visível.
Só visível.
Mas mesmo que não pudesses ver o rosto, ouvir a voz e nem sentir o toque, tu reconheceria sua presença pelo cheiro de boemia. Cheiro de poesia. Poeta à revelia.
E pra não dizer que não falei do gosto, gosto sim do que ainda não conheço nesse guri.

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